terça-feira, 25 de março de 2008

As palavras são dela.As imagens são dele.


E chegam a São Paulo.
A cidade os recebe da forma mais típica possível: engarrafamento e garoa.
Tudo é grande e monstruoso, menos o quarto do hotel.
Muita gente por ali, apesar de insistirem em dizer que a cidade estava vazia.
A praça era um cemitério. Falando nisso, onde ficam as praças de São Paulo?
Uma gentil senhorinha passa sem saber onde guardava o seu preconceito, talvez ela nem saiba que o tem, e o ofereceu em forma de dinheiro ao turista negro e sua linda bebê-boneca Armênia.
Sorte que ele não era preconceituoso e respondeu:"não obrigado, deixe ele ai guardado na sua bolsa” e sorriu.
No primeiro dia muitas portas estavam fechadas. Feriado.
Cimento, passos rápidos, muitas fotos.
Na Sé a igreja acolhe os “mano” de fé, mas muitos preferem o lado de fora.
Escolhas?Destino?Azar ou sorte? O crack não deixa as crianças responderem,mas todos são gentis, mesmo o guarda bêbado.
As pilhas acabaram. Literalmente e metaforicamente.
O famoso “Quem?” corre com o coração na mão.
Na rua deserta o nosso coração está na boca.
Deixa o coração dele, moço, que ele é da Globo e pode filmar onde quiser.
Guarda a máquina, moço, que você é turista e podem levar o quiserem.
O padre-palhaço celebra o nosso casamento antes de paquerar a Britney Spears.
Pontes. Ruas. Igrejas.
Mais metrô.
Madalena em nada lembra a Teresa e fica depois do Sumarezinho.
Pergunte antes!
Não tente conhecer a Madalena no susto, de tarde ela é mais tímida que à noite.
Pausa.
A rua é longa. Mas não é deserta.
Os cabelos passam entre eles.Iguais. Massificados.Massantes.
Emo-moda.Emo-massa.Emo-chapinha.Emo-loiro.
Mais adiante. Vire à esquerda. Na outra travessa. Mais um pouquinho.
O cachorro veio do jeito que ele queria. Quente e com purê de batatas. Ela achou que tinha muito milho e cuspiu.
Sono.
Nova etapa.
Lista.
Praça.
As pilhas foram recarregadas. De novo: Literalmente e metaforicamente.
Um shopping de rock. Espaço para pergunta: Punk vai ao shopping?
Fotos. Camisas. Fotos. Bonecos. Fotos. Gente. Fotos.
Onde estão os grafites?
Prédios & Prédios.
O outro lado da cidade.
Bodega, carnes e queijos.
Frutas exóticas e pessoas normais.
Azeite, bacalhau e capoeira.
Gente.
E um taxista que não tinha trocado.
Confusão.
As cenas passam em Flashes. Difícil narrá-las.
Fragmentos que terminam com dedos presos e gritos.
Um soco. A polícia.
E então continuaram a conhecer a cidade, não de táxi ou metrô, mas de viatura policial.
Todos olham.
O impulso de dar tchauzinhos aos que olham é grande, mas ela o contém.
Ele está calado e ela nervosa, fala pelos cotovelos para quebrar o gelo, afinal cariocas são simpáticos e não gostam de sinal fechado.
Comem uma trufa, mas qual era o gosto mesmo?
Os policiais pareciam saídos dos enlatados americanos: levavam o lanche num saquinho de papel e ficaram do lado dos mocinhos no final do filme.
E o vilão terminou pateticamente parado em frente à delegacia.
Mais uma volta na patrulhinha e ...
sobem os créditos.
Ela já tinha desistido do maior motivo pelo qual viajou.
Mas ele não deixa que ela desista.
A voz do Arnaldo Antunes.
As palavras são dela.
As imagens são dele.
Cores.
O virtual vira real. E como é bom conhecer quem você já conhece.
É madrugada e a cidade que nunca dorme está um tanto sonolenta para receber nossos heróis.
Os grafites aparecem.Muitos, mas já não há tempo e nem memória.
Mais sono.
É o último dia.
Eles gostam de Gente. E de palavras.
E eles se perdem entre as imagens.
E correm por entre as gentes.
Feito loucos que são.
E riem.
E a cidade se despede deles da forma mais típica possível: engarrafamento e garoa.
As palavras são dela.
As imagens são dele.

terça-feira, 18 de março de 2008

Fecha a torneira, menina!


E hoje eu economizei água conscientemente. Estava lavando louça, quando pensei :"Pra que esta bica aberta??" "pra onde vai esta água limpa?"
Fechei. Espero que daqui para frente isso aconteça sem que eu perceba.
Naturalmente...

segunda-feira, 17 de março de 2008

Livro:Cabeça de Porco, Trecho do capítulo:Identidade em obras I

"O fato é que há indiferença e ela, assim como o preconceito, encobre, sob um manto imperceptível, meninos e meninas pobres, especialmente negros. Indiferença gera invisibilidade.Resultado: Jovens transitam invisiveis pelas grandes cidades. O que significa para um adolescente este desaparecimento, este não reconhecimento, esta recusa de acolhimento por parte de quem olha e não vê ?(...)"

terça-feira, 11 de março de 2008

Filme: A culpa é do Fidel


Sinopse: Anna tem nove anos. Sua vida é tranqüila e confortável, boa parte vivida em Paris. Freqüenta uma escola católica e mora com seus pais, Marie e Fernando, sua babá e seu irmão caçula, François. Ela às vezes vai até Bordeaux, onde os avós maternos têm um vinhedo. Mas sua existência bem organizada irá se complicar com seu tio comunista, que é morto, uma viagem ao Chile e encontros com pessoas estranhas.
Eventos cuja importância Anna não pode mesurar, mas que transformarão profundamente a vida de seus pais. Engajamento político, altruísmo, a luta contra o imperialismo, feminismo, eleições: palavras-chaves que de agora em diante pontuarão as vidas de Marie e Fernando. Para Anna, a recém-descoberta paixão de seus pais expressa-se em outras palavras e fatos: mudança, desorganização, troca de babás, um apartamento menor e novos rostos. Assim como seus pais, Anna também muda, mas de forma diferente. Anna cresce assustada com a realidade, mas aceita esse novo mundo, o tempo todo olhando para o que a cerca de um jeito bem pessoal.

-> Um tema forte tratado com humor e ternura.
Não deve ser nenhum um pouco fácil ser uma menina de família classe-alta e de uma hora para outra seus pais virarem comunistas, a familia mudar-se para um pequeno apartamento sem luxos, pessoas estranhas (e barbudas!!) entrando e saindo, rejeição no colégio, pais mais envolvidos com os problemas mundias que os familiares...
A pequena Nina Kervel-Bey dá um banho de interpretação com suas caras e olhares.
O menino que faz o irmãozinho é um fofo!
Achei o filme inteligente, leve, divertido e envolvente.

**FRASES:
"você ta confundido tudo:vermelho e barbudo é o Papai Noel !"

"Ela nunca viu um zizu! Não sabe a diferença do zizu dos meninos para a Zuzette das meninas!!"

terça-feira, 4 de março de 2008

Exercitando a gentileza


Carta do dia: Cavaleiro de Copas
Exercitando a gentileza
O Cavaleiro de Copas emerge do Tarot como arcano conselheiro neste momento de sua vida, Renata. O conselho é aqui claro e direto: seja gentil. Faça com os outros aquilo que você gostaria que fizessem a você. Exercite ao máximo a sua capacidade de compreensão, de gentileza, conquiste as pessoas com atos singelos. Tudo o que você precisa, neste momento, não é pedir amor. É dar este amor, sem criar expectativas de retorno. É quando você parar de cobrar que receberá tudo o que almeja. Você sofrerá testes, no que diz respeito à capacidade de agir de forma compreensiva e gentil. Tente resistir à tentação de pôr pra fora agressividade e grosseria. O uso da palavra delicada, neste momento, faz toda a diferença!

Conselho: Exercite ao máximo a gentileza


**Como diria aquela filósofa conhecida minha: Então tá , então!

segunda-feira, 3 de março de 2008

De outros...

AMOR DO AMOR
O que é o amor do amor?
Essa intriga ficou como uma úlcera me gastando em segredo.
Estava lustrando meus sapatos de manhã. Não renovava esse gesto artesanal desde adolescente. Retomei com gosto a importância de me agachar para as miudezas.
Despir os cadarços. Alternar a escova, a cera, e o pano. Descobrir as frestas e as ranhuras. Ocultar as pedradas da superfície, limpar os peixes de couro, reconhecer a sola e sua gula pelas profundidades pedregosas. Herdar unhas encardidas e o brilho dos pares ao final.
Os sapatos envelhecem juntos. Eles se igualam com o uso. Não há maior, nem menor. Adquirem a bondade da experiência. A generosidade da estrada.
E cheguei à conclusão de que o amor do amor é estar junto em qualquer região da linguagem. Linguagem é mais do que lugar.
Linguagem cria o lugar.
É a capacidade de dizer qualquer coisa para sua companhia e não ser classificado de grosseiro, deslocado, ridículo.
Não enfrentar uma revista ao embarcar para a viagem pelas vogais. Não ser indiciado. Desfrutar da confiança da observação e da amizade espirituosa.
Ser compreendido no ato. Ou antes mesmo.
Levar alguém para todo o país de sua imaginação. Intimidade de olhar para a boca mais do que para os olhos, como dois apaixonados aguardando o beijo.
Quando posso ser sarcástico, debochado, pornográfico, poético, ingênuo, idiota, cínico, crédulo com uma mulher e não preciso me explicar, traduzir e pedir desculpa. E ainda parecer genuíno. E ainda parecer engraçado. E ainda parecer justo. E ainda parecer ousado.
Ser estimulado a não mentir.
Ser vários, e não perder a unidade. Ser muitos, e não perder o endereço.
Há algo mais vexatório do que brincar e outra pessoa permanecer séria? Estar se divertindo e ser julgado? Propor relações inesperadas e ser encaminhado para o chat de tortura?
Amor do amor é quando deixamos a espera pela esperança. Deixamos de repetir o que ela ou ele deseja ouvir, para se contentar com o que ouvimos. É uma imensa falta dentro da presença, uma imensa concordância dentro da discordância.
O amor é o contexto para aquilo que não tem explicação. O amor é sempre contexto para pensamentos desconexos, palavras excitadas.
Amor do amor é quando não nos envergonhamos de nada. Não há medo de dizer, pensar, errar. Quando o nosso pior continua sendo o melhor para quem nos acompanha.
Fabrício Carpinejar
(no blog dele
http://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br/ em :19/02/2008)
E não é que 2 meses de 2008 já foram embora?