sábado, 14 de junho de 2014

O Sol é para todos, Harper Lee

"O Sol é para Todos" foi o 1º livro para "gente grande " que li. Eu devia ter uns 11 anos e é claro que não entendi a complexidade dos assuntos abordados no texto, que depois vim saber tratar-se de um clássico da lit. Americana.
Sempre tive um carinho enorme por esse livro. Minha mãe leu, minha irmã leu e depois eu li.
Se eu tivesse um pai, queria que ele fosse o Atticus, se eu tivesse um irmão o Jem seria perfeito...
Vou reler com carinho.E lembrar de pegar o exemplar que está lá na estante da minha mãe.Sem capa e amarelado, mas que além da historia da Scout, traz pra mim o cheirinho da minha infância.Dessas coisas que só os livros nos trazem.

domingo, 4 de maio de 2014

Eu


Eu achava que eu era música, mas agora sei que eu sou texto



Uma Vida baseada em uni-duni-tê

Podem colocar na minha biografia: "E as escolhas de sua vida foram baseadas em  uni-duni-tê".

Antes mesmo de vir ao mundo, fui tema involuntário de um sorteio. Explico/: Minha mãe queria que meu nome fosse Marjorie (nome de uma modelo que fazia sucesso nos 70´s). Meu avô retrucou: "Mas eu nunca vou saber falar isso" (o nome é francês, pronuncia-se mais ou menos, faz biquinho: /MarRjôrri/) e sugeriu um monte de outros nomes (sabendo que ele queria batizar minha irmã de Edméia, vocês podem ter uma idéia da lista).
Reza a lenda que mamãe não queria ir contra as ideias do vovô, mas também não curtiu nenhum dos nomes apresentados (ufa) e alguém teve a fabulosa idéia de fazer um sorteio de nomes (#medo), colocando todas as opções num saquinho e fazer uma melhor de 3. Renato seria uma homenagem ao meu padrinho e não só entrou no saco, como dizem ter saído 3 vezes. (#sorte).
Na minha infância, segui a sina. Escolhia tudo na base do sorteio, par ou impar ou do "uni-duni-tê", de doces a quem seria o líder do time de queimado.
Na adolescência fui aprimorando as técnicas e escolhia músicas para ouvir e roupas no uni-duni-tê e sinceramente nem percebia, era natural pra mim.
Hora de escolher o curso da Faculdade, claro que seria no sorteio, estilo melhor de 3 e, 3 vezes Letras. Pronto, decidido.
Quando contei isso,despretensiosamente num bate papo com a Marcela, amiga da vida inteira e, formada em...Matemática, é claro que ela analisou e falou:"mas se você sempre começar o "uni-duni-tê" pelo lado direito, o esquerdo ganhará e vice-versa, já que a musiquinha tem um numero certo de silabas, noves fora, multiplicado por 30 e dividido pela enésima potência  blábbáblá #MEUMUNDOCAIU , afinal se estou numa lanchonete escolhendo um sanduíche não dá tempo de fazer o sorteio melhor de 3 e era sempre o "uni-duni-tê" que me salvava.
Assim, depois de muito pensar, desenvolvi um novo método "uni-duni-tê" que é quase uma coreografia. Quase um captcha da vida real. Voltei a minha vida normal.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Você não é especial , Tati Bernardi

Você não é especial

Nosso namoro acabou durante uma festinha de gente moderna que odeia publicidade e ama literatura mas adora publicitário e detesta ler. Na cozinha. Você colocou duas pedras de gelo na taça de vinho, me mostrou o dedão da mão direita e disse "o que você vê aqui?". Não poderia ser um teste idiota pra saber se eu estava bêbada –eu não bebo. "Um dedão", eu disse. E você balançou a cabeça, olhou demoradamente pra bunda da gordinha que tentava alcançar a última cerveja na parte mais baixa da geladeira e me mostrou novamente o dedão: "aposto que você vê as linhas, a pelezinha que eu cutuquei, essa mancha de grafite de uma lapiseira de quando eu era criança e... eu me sinto mal com tudo isso".
Na manhã seguinte, fiquei horas sentada em frente a uma página do Word. Até que escrevi "vinho aguado" e apaguei. Escrevi "mais do que um simples dedão" e (achei ridículo demais e) apaguei. Escrevi "o gelo, a bunda e o dedão" e achei que parecia um conto pornô tosco e apaguei.
Quando a Marta chegou, eu estava ouvindo Cassandra Wilson e escrevendo "linhas, peles e manchas". Ela me deu um abraço demorado, do tipo "se quiser desmoronar sua carcaça condoída em meus ossos, te cedo esses segundos" e eu só desejei que ela fosse embora logo para eu poder terminar o texto. O epicentro da dor é cem vezes melhor pra criatividade do que qualquer curso "pra escritor" que publicitário faz pra se achar menos idiota.
Passei a tarde repassando meus detalhes preferidos. Seu jeito compenetrado e inseguro de descer escadas; a meia gigante e suada que nunca, nem por um dia sequer, cheirou mal; a nossa piada preferida sobre "mijar naquelas piscinas cheias de velas e flores, típicas de casamento metido a besta" e a micro sobrancelha esquecida que você tem a dois centímetros da sobrancelha oficial.
Eu tinha doze anos quando ouvi a voz pela primeira vez: "ela observou o caixão de longe e chorou. Não porque estivesse com vontade, mas porque estava com fome e achou que chorando alguém pudesse lembrar que ela ainda era uma criança e precisava comer". Eu estava no velório da minha avó e, de repente, tudo começou a ser narrado dentro da minha cabeça: "o mais terrível dentro de um caixão é o nariz do morto, o nariz morre mais e primeiro que todo o resto".
Lembro que uma tia me tirou dali, porque eu chorava muito, e me comprou um cachorro quente, numa barraquinha em frente ao cemitério: "e então ela jamais conseguiria comer um cachorro quente novamente" e "pelo menos não foi um sanduíche de presunto".
Te chamei para ir ao cinema, te deixei em casa e me convidei pra subir. Me comporto como um homem quando um homem é homem o suficiente pra me deixar com o pau duro. Seu dedão é torto, quente, com calos, com um resto de alergia do detergente de maçã verde, com uma sujeira de Bic azul há quatro dias mesmo você tendo compulsão em lavar as mãos, com um micro chumaço de no máximo sete pelos mais escuros e algumas penugens microscópicas mais alouradas.
A professora colocou um vaso lá na frente e mandou a gente descrever: vermelho, pequeno e para colocar flores. Eu escrevi: triste, vazio e barato. Ela mandou chamar minha mãe. Mesmo você não tendo a menor importância, tenho plena certeza de que era amor.

Tati Bernardi, na Folha, 14/04/2014
Tati Bernardi

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Em frente

Então a gente percebe que mais um ciclo precisa ser fechado.
Apesar do medo. Apesar da insegurança. do conforto que o velho trás, como uma roupa que se ajusta ao corpo. É preciso despir. Deixar para trás o que não agrega mais.
Restarão alegrias e cicatrizes.Aprendizado.
É preciso seguir em frente.E todo dia relembrar do mantra da minha vida: "Tudo passa". O bem e o mal. A alegria e a tristeza.Pode demorar. Pode ser agora. Posso nem sentir.
Mas passa. Vai passar.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Check-up

Check-up
Este ano pretendo cumprir rigorosamente a resolução que tomei no fim do ano
passado: não mais tomar resoluções de ano-novo. Elas são promessas que fazemos à
nossa consciência em que nem a consciência acredita mais. A minha já estava
reagindo com bocejos a cada juramento que eu fazia para o ano-novo.
- Vou começar uma dieta. Séria, desta vez.
- Sei, sei.
- Vou ser tolerante, justo, sóbrio, equilibrado... e arrumar meus livros.
- Tudo bem.
- Fazer exercícios diários. Usar fio dental. Reler os clássicos. Não tudo ao mesmo
tempo, claro.
- Certo, certo.
Mesmo com ar de enfado, minha consciência não deixa de se submeter ao exame
anual que faço nela, sempre nos últimos dias de dezembro. Uma espécie de checkup
moral. Seu estado geral é bom. Não teve grandes provações no ano passado. Fiz
algumas coisas que não devia, não fiz outras que devia, nada grave. Vamos poder
continuar nos encarando - principalmente agora que eliminamos este ridículo ritual
das resoluções de fim de ano da nossa relação. O homem maduro é o que desiste da
virtude impossível para não perder a possível.
(Luis Fernando Verissimo, As mentiras que os Homens contam)

O Encontro

O Encontro
Ela o encontrou pensativo em frente aos vinhos importados. Quis virar, mas era
tarde, o carrinho dela parou junto ao pé dele. Ele a encarou, primeiro sem
expressão, depois com surpresa, depois com embaraço, e no fim os dois sorriram.
Tinham estado casados seis anos e separados, um. E aquela era a primeira vez que
se encontravam depois da separação. Sorriram e ele falou antes dela; quase falaram
ao mesmo tempo.
- Você está morando por aqui?
- Na casa do papai.
Na casa do papai! Ele sacudiu a cabeça, fingiu que arrumava alguma coisa dentro
do seu carrinho - enlatados, bolachas, muitas garrafas -, tudo para ela não ver que
ele estava muito emocionado.
Soubera da morte do ex-sogro, mas não se animara a ir ao enterro. Fora logo
depois da separação, ele não tivera coragem de ir dar condolências formais à mulher
que, uma semana antes, ele chamara de vaca. Como era mesmo que ele tinha dito?
"Tu és uma vaca sem coração!" Ela não tinha nada de vaca, era uma mulher esbelta,
mas não lhe ocorrera outro insulto. Fora a última palavra que lhe dissera. E ela o
chamara de farsante. Achou melhor não perguntar pela mãe dela.
- E você? - perguntou ela, ainda sorrindo.
Continuava bonita.
- Tenho um apartamento aqui perto.
Fizera bem em não ir ao enterro do velho. Melhor que o primeiro reencontro fosse
assim, informal, num supermercado, à noite. O que é que ela estaria fazendo ali
àquela hora?
- Você sempre faz compras de madrugada?
Meu Deus, pensou, será que ela vai tomar a pergunta como ironia?
Esse tinha sido um dos problemas do casamento, ele nunca sabia como ela ia
interpretar o que ele dizia. Por isso, ele a chamara de vaca no fim. Vaca não deixava
dúvidas de que ele a desprezava.
- Não, não. É que estou com uns amigos lá em casa, resolvemos fazer alguma
coisa para comer e não tinha nada em casa.
- Curioso, eu também tenho gente lá em casa e vim comprar bebidas, patê, essas
coisas.
- Gozado.
Ela dissera uns amigos. Seria alguém do seu tempo? A velha turma? Ele nunca
mais vira os antigos amigos do casal. Ela sempre fora mais social do que ele. Quem
sabe era um amigo? Ela era uma mulher bonita, esbelta, claro que podia ter
namorados, a vaca.
E ela estava pensando: ele odiava festas, odiava ter gente em casa. Programa,
para ele, era ir para a casa do papai jogar buraco. Agora tem amigos em casa. Ou
será uma amiga? Afinal ele ainda era moço... deixara a amiga no apartamento e
viera fazer compras. E comprava vinhos importados, o farsante.
Ele pensou: ela não sente minha falta. Tem a casa cheia de amigos. E na certa viu
que eu fiquei engasgado ao vê-la, pensa que eu sinto falta dela. Mas não vai ter essa
satisfação, não senhora.
- Meu estoque de bebidas não dura muito. Tem sempre gente lá em casa - disse
ele.
- Lá em casa também é uma festa atrás da outra.
- Você sempre gostou de festas.
- E você, não.
- A gente muda, né? Muda de hábitos...
- Tou vendo.
- Você não me reconheceria se viesse viver comigo outra vez.
Ela, ainda sorrindo:
- Que Deus me livre.
Os dois riram. Era um encontro informal.
Durante seis anos tinham se amado muito. Não podiam viver um sem o outro. Os
amigos diziam: esses dois, se um morrer o outro se suicida. Os amigos não sabiam
que havia sempre uma ameaça de mal-entendido com eles. Eles se amavam, mas
não se entendiam. Era como se o amor fosse mais forte porque substituía o
entendimento, tinha função acumulada. Ela interpretava o que ele dizia, ele não
queria dizer nada.
Passaram juntos pela caixa, ele não se ofereceu para pagar, afinal era com a
pensão que ele Ihe pagava que ela dava festas para uns amigos. Ele pensou em
perguntar pela mãe dela, ela pensou em perguntar se ele estava bem, se aquele
problema do ácido úrico não voltara, começaram os dois a falar ao mesmo tempo,
riram, depois se despediram sem dizer mais nada.
Quando ela chegou em casa ainda ouviu a mãe resmungar, da cama, que ela
precisava acabar com aquela história de fazer as compras de madrugada. Que ela
precisava ter amigos, fazer alguma coisa, em vez de ficar lamentando o marido
perdido.
Ela não disse nada. Guardou as compras antes de ir dormir.
Quando ele chegou ao apartamento, abriu uma lata de patê, o pacote de bolachas,
abriu o vinho português, ficou bebendo e comendo sozinho, até ter sono e aí foi
dormir.
Aquele farsante, pensou ela, antes de dormir.
Aquela vaca, pensou ele, antes de dormir.

(Luis Fernando Verissimo, As mentiras que os homens contam)

VEM ANO NOVO!

VEM ANO NOVO!

Sempre faço listas de desejos e metas, as primeiras continuo desejando, as segundas, nem sempre as cumpro.
Queria falar um monte de coisas bonitas aqui pra vocês, ou pelo menos engraçadas, mas não to conseguindo desenvolver muito bem.
No geral é: Vamos ficar menos tempo na internet e nos encontrar mais? Vamos ler aquele livro e ouvir aquelas musicas e sair para comentar? Vamos ter uma alimentação melhor, cuidar do corpo e da mente, mas sem deixar de lado o sagrado barzinho? Vamos assistir todas aquelas séries e aqueles filmes que estão anotados no caderninho? Vamos falar menos das dos outros ? Vamos visitar mais a família, os amigos e comparecer nos chás de bebes e festinhas de aniversário dazamiga ? Vamos tentar ser melhor a cada dia? Agradecer, compartilhar, pedir desculpas e tentar ser menos critico? Vamos dar mais abraços? Vamos parar de mimimi? Vamos ??
ENTÃO... VEM 2014!!! Feliz ano novo para vocês!