quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Felicidade Pública

"(...)Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. As vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante."
Felicidade clandestina - Clarice Lispector

Tão lindo isso...Estou me sentido como essa menina.
Lendo "Felicidade Clandestina" aos poucos, para não gastar...1 ou 2 contos por dia.Leio de manhã, no ônibus e sigo o dia carregando aquela história dentro de mim.
Costumo ser uma leitora voraz, ao menos 1 livro por mês, fora as revistas, jornais e blogs diários. Mas com "Felicidade Clandestina" , está sendo diferente. Estou degustando.Sentindo.
E estou adorando.

Um comentário:

Ni Barreto disse...

nunca li esse, mas já conhecia esse trecho. a-mo!