terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Check-up

Check-up
Este ano pretendo cumprir rigorosamente a resolução que tomei no fim do ano
passado: não mais tomar resoluções de ano-novo. Elas são promessas que fazemos à
nossa consciência em que nem a consciência acredita mais. A minha já estava
reagindo com bocejos a cada juramento que eu fazia para o ano-novo.
- Vou começar uma dieta. Séria, desta vez.
- Sei, sei.
- Vou ser tolerante, justo, sóbrio, equilibrado... e arrumar meus livros.
- Tudo bem.
- Fazer exercícios diários. Usar fio dental. Reler os clássicos. Não tudo ao mesmo
tempo, claro.
- Certo, certo.
Mesmo com ar de enfado, minha consciência não deixa de se submeter ao exame
anual que faço nela, sempre nos últimos dias de dezembro. Uma espécie de checkup
moral. Seu estado geral é bom. Não teve grandes provações no ano passado. Fiz
algumas coisas que não devia, não fiz outras que devia, nada grave. Vamos poder
continuar nos encarando - principalmente agora que eliminamos este ridículo ritual
das resoluções de fim de ano da nossa relação. O homem maduro é o que desiste da
virtude impossível para não perder a possível.
(Luis Fernando Verissimo, As mentiras que os Homens contam)

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