quarta-feira, 3 de junho de 2009

De volta à nossa programação anormal

Tenho lido bastante. Revistas, blogs, twitter, livros.
Pouco Tempo/Paciência para escrever...até rolam algumas idéias inspiradas nas minhas leituras, mas precisaria trabalhar em uma empresa em que não fosse tudo bloqueado e que me oferecesse ao menos 10 % do meu tempo lá para projetos pessoais.
[Tenho sentido a necessidade de partilhar. Saber e repassar.Trocar.Comentar. Muito mais dividir do que multiplicar.Ouvir.Responder.Trocar de novo.Ir e vir.]
Como não trabalho no Paraíso, vou copiar/colar um texto interessantíssimo que saiu na revista TPM deste mês.
O texto está cheio de ótimas referências.Cliquem nos links e repassem. Dividam Favoritem.
A Matéria era sobre o aumento de usuárias de cocaína no Brasil e o texto abaixo fecha a reportagem falando de nossa NECESSIDADE em encontar a felicidade. Ela existe? É o que você pensa ? É um estado permanente ou temporário ?

FELICIDADE TRANSBORDANTE
por Denise Gallo*
A felicidade é a religião do indivíduo moderno, escreveu Edgar Morin.
Sua essência é uma “mitologia euforizante”, que arremessa para longe qualquer mal-estar que incomode o lustroso projeto de vida contemporâneo: um conto bem contado, que combina prazer em doses cavalares, poder individual ilimitado e soluções imediatas para todos os males, renovadas a cada estação. Funciona bem, nas páginas das revistas. Quanto à insatisfação crônica que ronda as vidas imperfeitas do mundo real, num eufemismo esperto, ela vira “motivação para a mudança”. E é importante que seja assim, pois, sem insatisfação, não há consumo e sem consumo…O romance Ser Feliz, de Will Ferguson (ed. Companhia das Letras) – não sou a primeira a citá-lo –, é uma irônica descrição do que aconteceria caso o projeto de felicidade da nossa cultura fosse concretizado.
Na história, uma editora publica um livro de autoajuda que, diferentemente dos demais, funciona. As pessoas que leem atingem um grau de bem-estar nunca experimentado e, plenamente satisfeitas, não querem mais rejuvenescer a pele, fazer dieta, comprar acessórios da moda ou ouvir conselhos. Como consequência, as indústrias começam a falir e o capitalismo entra em colapso. Curiosamente, as primeiras “vítimas” da nova ordem são as indústrias de tabaco, de bebidas e as drogas. Faz sentido. Assim como faz sentido o seu oposto: que uma sociedade regida pelo imperativo do gozo inatingível veja crescer o consumo dos mais diversos aditivos químicos que estreitam, ainda que momentaneamente, o abismo entre projeto e realidade. Difícil dar conta dessa obrigação de ser feliz. Enquanto a ficção não se torna realidade, um entusiasmo excessivo, totalmente dependente do consumo, segue estampado em capas e telas. A mídia é empolgada por natureza. A mídia feminina, ainda mais. Mulheres saltitantes e sorridentes rodopiam de uma página a outra. O êxtase é total. Ou melhor, o êxtase é total!!! Isso mesmo: total!!! Alguém pode me explicar para que tantos pontos de exclamação? Eu contei: 49 pontos de exclamação foram utilizados em apenas oito capas de uma revista feminina feita para as mulheres de 20 e poucos. Sobre a origem do ponto de exclamação, a Wikipedia explica que a hipótese mais provável é que o sinal tenha surgido da junção de letras da palavra io, “exclamação de alegria”, em latim. Esse é o problema: quem sente tanta alegria? Aí você olha para sua vida, onde provavelmente encontrará muito mais pontos de interrogação, eventualmente algumas reticências, e talvez pense que há algo errado… com a sua vida ou com a revista? Abaixo o ponto de exclamação. Chega do show de empolgação que nada tem a ver com as contradições humanas. Precisamos todos nos desintoxicar desse drive-thru de felicidade, de definições arbitrárias e receitas infames. Peça pelo número: zero. E não se esqueça que a moda agora é ser simples. Mas essa pegadinha a gente deixa para um outro texto.

*Denise Gallo, 38, é sócia da Uma a Uma, empresa de inteligência de mercado especializada em comportamento feminino: blog.umaauma.com.br

2 comentários:

Unknown disse...

Adorei!
Xi... Usei a exclamação. :(

Ni Barreto disse...

vc se identificou total com as reticências, né? rssss