quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Chuvisco

"CHOVEU durante quatro anos, onze meses e dois dias. Houve épocas de chuvisco em
que todo mundo pôs a sua roupa de domingo e compôs uma cara de convalescente
para festejar a estiagem, mas logo se acostumaram a interpretar as pausas como
anúncios de recrudescimento. O céu desmoronou-se em tempestades de estrupício e
o Norte mandava furacões que destelhavam as casas, derrubavam as paredes e arrancavam
pela raiz os últimos talos das plantações. Como acontecera durante a peste da
insônia, que Ursula dera para recordar naqueles dias, a própria calamidade ia inspirando
defesas contra o tédio(...)

(...)O ruim era que a chuva atrapalhava tudo e as máquinas mais áridas brotavam em flores por entre as engrenagens se não fossem lubrificadas de três em três dias, e se enferrujavam os fios dos brocados, e nasciam algas de açafrão na roupa molhada. A atmosfera estava tão úmida que os peixes poderiam entrar pelas portas e sair pelas janelas, navegando no ar dos aposentos(...)."


(Cem anos de Solidão, Gabriel Garcia Márquez)

Um comentário:

Ni Barreto disse...

"cabelo encolheu todinho"